24 | fevereiro | 2017

Receita de um grande carnaval

Por Luiz Antonio Josahkian

A maior festa popular do Brasil está se aproximando. Carnaval deriva da expressão em latim carnem levare, que significa afastar-se ou dar adeus às carnes ou, mais amplamente, à fartura de alimentos.  Mas no país do carnaval se dá exatamente o contrário: é uma época de muita fartura, churrasco, cerveja, feijoada, caipirinha, comemorações e por aí vai.

O que não é lembrado, sequer valorizado, é que o combustível dessa festa vem dos alimentos, o que só é possível porque o agronegócio é um sucesso em um país no qual tantas atividades estão naufragando. Lamentavelmente, além de esquecido, é até injustamente criticado, basicamente pelo desconhecimento de que mantemos preservados mais de 60% do território nacional (80% da Amazônia e 83% do Pantanal) submetidos a um código ambiental considerado um dos mais rigorosos do mundo. A visão anacrônica de uma pecuária extrativista, que realmente predominou no Brasil até 1975, precisa urgentemente ser substituída pela atividade atual, que aumentou sua produção 6,35 vezes (pós 1975) onde 80% se explicam por aumento de produtividade com redução da área explorada, preservando 525 milhões de ha, área adicional que seria necessária para atingir os níveis atuais de produção na ausência de tecnologias, a exemplo do melhoramento genético. Preservamos nossa biodiversidade, que é quatro vezes maior que a da Venezuela, mais de cinco vezes a da Argentina e quase dez vezes maior que a do Uruguai. 

Devíamos nos orgulhar de que a produção brasileira bateu recorde em 2015. Na agricultura, foram 207 milhões de toneladas de grãos, 40 milhões de toneladas de frutas e 45 milhões de toneladas de hortaliças e legumes. Tudo isso usando apenas 8% do território nacional. Já na pecuária, foram 25 mil toneladas de carnes de aves, bovinos e suínos, 35 bilhões de litros de leite, 4,1 bilhões de dúzias de ovos e, para adoçar, 658 milhões de toneladas de cana-de-açúcar e 38 milhões de litros de mel. Estamos aumentando nossa produção exponencialmente, o que nos garante segurança alimentar e ainda excedentes para exportação.  Nossa produção é suficiente para alimentar quatro brasis, e por isso nossa agricultura atinge um mercado de um bilhão de pessoas mundo afora e nossa carne está presente em mais de 140 países. É o agronegócio que tem mantido a economia brasileira positiva nos últimos anos, permitindo, inclusive, que nosso país possa receber com elegância e boa mesa os estrangeiros que irão ovacionar nosso carnaval.  A eficiência do agro é que tem permitido o acesso a uma cesta básica pelo menos 40% mais barata em valores reais nos últimos trinta anos. Mas como não há setor econômico no mundo que seja perfeito, críticas ao setor são cabíveis, mas, convenhamos, não críticas vazias e durante o carnaval, quando estaremos expostos aos olhos de milhões de pessoas do mundo inteiro. Esta seria a oportunidade de exaltarmos, com orgulho, o nosso país e mostrar ao mundo a sua grandiosidade. Ao fim, quando a bateria e o ronco das cuícas dos sambistas, com roupas confortáveis de algodão, sandálias de couro, cercados por turistas se banqueteando, o agronegócio que ali esteve presente – silencioso, mas fundamental – seguirá além da praça da apoteose. Na quarta-feira de cinzas, quando os foliões exaustos estiverem indo dormir, os produtores rurais estarão se levantando, fieis à produção sustentável, porque sabem que a natureza existe e requer cuidados o ano inteiro para permitir, inclusive, que se faça o carnaval por três dias.

*Artigo publicado na revista Globo Rural Fev/2017